Não é fácil escrever um livro. Primeiro é preciso escolher um título. Depois, o sumário. Caso você deseje que o livro seja classificado por bibliotecas e livrarias, é preciso obter para ele um código numérico, como o ISBN (número padronizado internacional para livros). É preciso que as margens sejam decididas. E há também o problema da quarta capa. E, claro, há também aquela parte do meio. O texto. Philip M. Parker parece ter dominado completamente o sistema. Ele já gerou mais de 200 mil livros, como demonstra uma busca pelo nome de sua editora no site da Amazon.com, o que o torna, em suas palavras, "o autor mais publicado da História".
E Parker ganha dinheiro com isso.Os livros publicados sob o seu nome são mais compilações do que criações, e Parker provavelmente deveria ser definido como compilador e não como escritor. Ele trabalha como professor de inovação, negócios e sociedade na Insead, uma escola de administração de empresas com campi em Fontainebleau, na França, e em Cingapura, e desenvolveu algoritmos de computador que recolhem informações publicamente disponíveis sobre um tema ¿ conhecido ou obscuro - e, com a ajuda de 60 ou 70 computadores e seis ou sete programadores, faz delas livros em diversos gêneros, muitos deles com tamanho da ordem de 150 páginas e impressos apenas quando um cliente encomenda um exemplar.
Pode parecer trapaça, aos olhos de um leigo, mas Parker discorda. O compilador defende idéias provocantes - e aparentemente lucrativas - quanto ao que define um livro. Embora os mais populares de seus livros vendam centenas de cópias, é comum que a tiragem seja de apenas algumas dezenas de exemplares, quase todos vendidos a bibliotecas médicas que adquirem quase tudo que ele produz.
Ele estendeu sua técnica às palavras cruzadas, poemas rudimentares e até roteiros de programas de TV. E está estabelecendo as bases para romances de amor gerados por uma série de novos algoritmos. "Eu já montei o sistema", ele afirmou. "Afinal, o corpo humano tem um número limitado de partes".
Folheando um livro como o manual que prevê vendas de pisos de banheiro na Índia (um dos trabalhos compilados pelo sistema de Parker), o leitor encontraria dificuldades para encontrar uma sentença ao menos "escrita" pelo computador. Ao abrir o livro, um leitor encontra a folha de rosto, um sumário bastante detalhado e muitas páginas de gráficos, com pequenos textos introdutórios genéricos adaptados ao conteúdo e gênero específico.
Embora não haja notificação nos livros de que eles foram gerados em computador, um leitor, David Pascoe, parece ter chegado perto de desvendar o mistério sem ajuda, com base em comentários que ele escreveu em 2004 no site da Amazon. Revisando um guia sobre uma doença de pele conhecida como "rosácea", o australiano Pascoe se queixou de que "o livro é mais um modelo de busca genérica de saúde do que algo específico sobre a doença. A informação é tão genérica que gerar um guia sobre outro tópico médico com o mesmo texto requereria apenas uma substituição das palavras relevantes".
Quando informado por e-mail de que sua suspeita procedia, Pascoe respondeu: "Bem, creio que o fato de que o livro fosse tão ruim e tão frustrante agora faz sentido". Parker está disposto a admitir boa parte do argumento de Pascoe. "Se você souber pesquisar na Internet, esse livro não serve para muita coisa", disse, acrescentando que Pascoe simplesmente não deveria tê-lo comprado. Mas Parker acrescenta que pessoas menos familiarizadas com a Internet consideram que livros como esse sejam úteis.
Ele decidiu se dedicar a esse projeto em um esforço por automatizar trabalho chato ou difícil. Comparando-se a um discípulo distante de Henry Ford, ele disse que estava "desconstruindo o processo de levar um livro ao leitor, e automatizando cada passo possível do processo". Ele acrescentou que "meu objetivo não é que o computador escreva um texto, mas que ele execute as tarefas repetitivas que seria dispendioso demais realizar de outra maneira".
Fonte: The New York Times via
quarta-feira, fevereiro 11, 2009
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